Revisando a opressão velada

Quando os programas “humorísticos” no passado eram cheios de gays e pessoas trans sendo usadas para deleite e graça, sendo usados como uma aberração para olhar e rir, estava tudo bem. Quando estes mesmos programas usavam mulheres por suas curvas, criavam narrativas e piadas que quando tinham mulheres citavam exclusivamente sexo.

Quando estes usavam negros para mostrar preguiça, álcool, pobreza.

Quando usavam pessoas não sudestinas para rir de seus sotaques, rir de tudo que vinha de suas culturas,

Neste mesmo mundo, ainda bem selvagem nestes pontos, isso era a unica possibilidade de graça ? não mas sempre foi um gatinho de “humor fácil” alem de que esta visão distorcida serve muito bem, a um projeto que de fato transforma corpos em ferramentas de gloria (no caso dos caucasianos, com a maior semelhança com os europeus possível), ou de preguiça vicio, ignorância, inocência, crime, ou sexo (quando era mais parecidos com nos mesmos)

Usa-se estes espelho para destruir a auto imagem de um povo e dominar com força, e a reboque reforça o texto que negros, mulheres e pessoas LGBTQIAP+ são inferiores e podem ser achincalhados ao bel prazer de seres superiores.

Mas ai os grupos se organizaram, e trouxeram a tona a dor de tais peças de humor “inocentes”, e isso virou uma questão, e ai se torna algo errado, criminoso, e execrável, o nome disso é evoluir como pessoas, como grupo. Mas neste mundo ainda há pessoas que tem saudosismo deste tempo de maior violência velada, cruel e silenciosa ! Pra este grupo, a dor dos alvos deve ser calada, ou suprimida pelo sonoro som da gargalhada do opressor.

Hoje que estas mesmas pessoas são exibidas como pessoas, como gente, as pessoas se ofendem.

Claramente temos uma mensagem sendo passada, quando a resposta é o refugio saudosista num passado sem regras, ofensivo, misógino, machista, homofóbico, transfóbico, racista, etc. mostra que o saudosismo tem endereço certo.

Atacar alguns grupos, histórica e politicamente vulneráveis, ainda é um prazer, pra alguns brasileiros que fazem bastante barulho…

Quanto tempo ainda esperar pra ter certeza qual o caminho que estamos seguindo ?

Coletivize-se, organize-se não permita que meia duzia de pessoas te oprimam impunemente, em grupo não somos vulneráveis !

Parte II – Uma pequena Anedota

Nasci branco, me tornei moreninho, vivi a vida assim achava que minha própria identidade era por mim reconhecida, mas eu nasci num mundo ainda mais toxico para pessoas negras que o que narrei acima.

No dia 19 de Novembro de 2020, minha irma fala comigo (talvez no dia 20) sobre um homem (???) que tinha sido espancando ate a morte por dois homens brancos, e eu fui ver a matéria, ela me disse as palavras (Irmão que angustia, parecia que estava vendo você sendo espancado)

Ao entrar para ver a matéria que surpresa que tive, que espanto, alem da barbárie da cena em si, uma outra violência vinha acontecendo ha mais de 50 anos e eu sequer pude sentir a dor desta violência, embora neste caso especifico eu era a vitima.

O homem que minha irma viu a minha imagem, era negro, minha mente deu um parafuso na hora, e busquei minha identidade na minha própria fala, e ouvi um moreno, ou quaisquer termos aceitos pela branquitude sobre os negros mais aceitos, os negros que por algum carácter fenotípico, ou de capacidade eram engolidos pelos mesmos, e não ouvi na minha fala o termo preto, minha auto imagem estava definitivamente distorcida pelo meio em que vivo.

Foi tao difícil engolir a violência contra um homem, do que a violência que eu inconscientemente e paulatinamente praticava contra mim mesmo. e me reposicionei em uns dias e percebi que minha etnia tinha sido apagada !

Deste este dia me denomino homem negro, com orgulho, minha irma já esta mais evoluída que eu e se auto denomina mulher preta, acho lindo, mas pra mim ainda não eh uma questão simples, este primeiro passo é fruto de uma fuga e uma necessidade de ser aceito, se os negros são feios, são burros, são preguiçosos pois foi a imagem que foi desenhada pra mim, e eu não queria fazer parte deste universo, então eu jamais fui negro…

A representatividade não é apenas necessária, ela é fundamental na socialização e criação de uma sociedade mais equilibrada, mais justa, e com mais gente com voz que pode contribuir para o avanço sem hierarquias criadas por um grupo opressoras a outro grupo !